Experiência poética e debate anticolonial presentes na exposição “corpo>>carto>>grafia: afrodiaspórica do vitiligo” no Espaço Arteducação da FaE

Compartilhe em suas redes sociais

Com uma imersão poética profunda, a exposição da artista Gabriela Guerra, compartilha a investigação sobre sua experiência com a afecção que provoca a despigmentação da sua pele. Este trabalho integra a pesquisa de doutoramento intitulada “Sentidos do corpo e experiências em torno do vitiligo: diálogos sobre raça e educação a partir do Ciberterreiro”, orientada pela Prof. Dra. Shirley Aparecida de Miranda. A exposição foi pensada como uma escrita poética dentro da tese de doutorado em Educação: Conhecimento e Inclusão Social, compondo parte de seu relatório de qualificação. Realizada no Espaço Arteducação, a mostra teve a abertura no dia 14 de junho e apresenta obras com desenhos digitais, fotografias e uma instalação interativa.

A pesquisa tem como base as artes afrodiaspóricas e as perspectivas anticoloniais de Educação, na qual a artista vem experimentando o vitiligo como linguagem. A exposição convida o público a pensar outras formas de se relacionar com o tempo e o espaço, ativando os conhecimentos dos nossos corpos e buscando a descolonização do poder, do saber e do ser. Neste contexto, debates sobre Arte, Ciência, Raça, Gênero, Cor, Pele e Pigmento compõem essa investigação que tem como colaboração o Grupo de Pesquisa Ciberterreiro / NERA. 

Um registro de destaque é a participação da artista e arquiteta Michelle Corrêa na exposição, que, além de assinar a curadoria junto com Gabriela Guerra e a coordenadora do Espaço Arteducação, Daniele Alves, é também autora da instalação interativa intitulada “Pele Afetiva”. 

A Exposição “corpo>>carto>>grafia afrodiaspórica do vitiligo” integra a sequência de trabalhos selecionados no edital de ocupação do Espaço Arteducação para os anos de 2023 e 2024 e fecha, com maestria, o ciclo de exposições do primeiro semestre de 2023. A exposição estará disponível para visitação no Espaço Arteducação até o dia 12 de julho de 2023.

Convite para a exposição “CORPO>>CARTO>>GRAFIA: afrodiaspórica do vitiligo”

Conheça mais sobre as artistas:


Gabriela Guerra é artista visual e pesquisadora. Possui bacharelado em Artes Visuais pela Universidade Federal de Minas Gerais e é  doutoranda em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG (2015). Tem experiência nas áreas de Artes e Educação, com ênfase em artes visuais, atuando principalmente nas seguintes linguagens: desenho, cenografia, performance e audiovisual. Desenvolve pesquisas no campo da educação para as relações étnico-raciais e das artes e culturas afrodiaspóricas. É co-fundadora do Coletivo Black Horizonte, com o qual realiza trabalhos artísticos desde 2010.


Michelle Corrêa se apresenta como uma pessoa curiosa das artes, do território e da cultura. Em 2022, graduou-se em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Minas Gerais, com Formação Complementar-Transversal em “Saberes Tradicionais” e “Processos Criativos e Culturas em Movimento”. Constrói conhecimentos a respeito de descolonização, raça e práticas educativas dentro do grupo de pesquisa CNPQ: Ciberterreiro. Para além dos muros da universidade, incentiva a criação de contextos favoráveis ao desenvolvimento cultural por meio de trocas e vivências junto a comunidades populares, movimentos sociais, aldeias indígenas, quilombos urbanos e centros culturais.

Conheça mais sobre o Grupo de Pesquisa Ciberterreiro / NERA :

Monocultura do saber, reprodução de hierarquizações e desigualdades engendram modelos científicos monorraciais e monoétnicos. Esses são componentes estruturais da universidade que estão a exigir uma renovação institucional e teórica, sobretudo diante da determinação de valorização da história da África, cultura afro-brasileira. Esse debate tem avançado nas matrizes dos estudos pós-coloniais e decoloniais. Há outras epistemologias em curso, marcadas por teorizações que admitem instabilidades, interpretações metodologicamente posicionadas, tentativas de renovação conceitual e ousadias individuais, seja em programas de pós-graduação, seja em grupos e linhas de pesquisa. É nesse enfoque que nos interessa a proposição de pesquisa em colaboração com o artista Gil Amâncio. A abordagem de processos de conhecimento a partir da arte negra tem o potencial de colocar em evidência patrimônios de conhecimento e tradições desconsideradas nos currículos acadêmicos colaborando para quebrar a visão única de mundo apresentada pelo enfoque eurocêntrico no âmbito científico, filosófico e cosmológico. Desse ângulo pretendemos avançar em direção a um currículo descolonizado, proposição já em curso em universidades europeias e americanas e da qual participamos ainda timidamente, com a Formação Transversal em Relações Raciais: História da África e Cultura Afro-brasileira.

Trata-se de uma produção que emerge do encontro entre arte e educação potencializado pelo Ciberterreiro, coletivo de arte, que em sua conexão com a universidade interroga a relação entre raça e descolonização de processos educativos. Assim, de forma colaborativa, os experimentos com vitiligo trazidos nessa exposição apontam caminhos para uma cartografia do apagamento da presença negra na construção da sociedade brasileira, nos campos da ciência, da política e da estética. Como a arte pode desvelar camadas que o apagamento esconde? 

Shirley Miranda

Belo Horizonte, 10 de junho de 2023                                                                                                      

Compartilhe em suas redes sociais
X