Analise de Jesus da Silva, da Faculdade de Educação, concorre ao Prêmio Faz Diferença

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Analise:
Analise: é preciso criar escolas para a EJA e evitar que espaços sejam fechados
Foto: Zirlene Lemos | UFMG

A professora Analise de Jesus da Silva, da Faculdade de Educação (FaE) da UFMG, concorre ao Prêmio Faz Diferença, do jornal O Globo, na categoria Educação. A iniciativa, que chega à sua vigésima edição, homenageia pessoas de áreas diversas cujas ações no ano anterior inspiraram o país. Pedagoga e historiadora, Analise dedica grande parte de sua atuação, na academia e fora dela, à Educação de pessoas Jovens, Adultas e Idosas (EJA).

Professora de Didática para todas as licenciaturas, Analise de Jesus da Silva ingressou na UFMG há 15 anos, após quase 30 de atuação na educação básica, na maior parte do tempo como docente na EJA. Na Universidade, ela lida com a EJA tanto em sala de aula como em pesquisas e projetos de extensão. “Vencer o Prêmio será muito importante porque certamente dará visibilidade à pauta da EJA”, afirma a docente da FaE.

Os votos devem ser registrados no site do Prêmio Faz Diferença.

Uma das mais importantes pesquisadoras e militantes da Educação de Jovens e Adultos, ela defende maior apoio à modalidade, que exige ações “para agora”; votação está aberta

88 milhões
Em suas participações em fóruns e debates em todo o Brasil, Analise de Jesus da Silva ressalta que o Brasil tem 88 milhões de pessoas que têm o direito constitucional à educação após a idade escolar, o que representa nada menos que 43% da população. Em Minas Gerais, são 54%; em Belo Horizonte, 38%, segundo a docente, que coordena pesquisa sobre o tema iniciada em 2016 e atualizada anualmente.

Ela informa que cada vez mais adolescentes se incorporam às turmas de EJA. “Se chega um adolescente de 15 anos ainda não alfabetizado, quer dizer que ele passou nove anos na escola pensada para crianças e adolescentes – considerando que há quase 33 anos a frequência de crianças e adolescentes é assegurada obrigatoriamente pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) – e não aprendeu o mínimo”, alerta.

Analise lembra que a situação dos sujeitos da EJA foi agravada pela pandemia, já que não tiveram direito, na prática, ao distanciamento social, porque precisavam trabalhar ou procurar trabalho. Sem falar na falta de acesso a recursos computacionais e à internet de banda larga, fundamentais para o ensino remoto adotado para prevenir o contágio da covid-19.

Medidas para a oferta
No Brasil, atualmente, de acordo com Analise, “não se trata apenas de criar escolas e turmas para pessoas jovens, adultas e idosas, é preciso evitar o fechamento dos espaços que existem”. Ela acrescenta que “há pouquíssimas escolas disponíveis para essas pessoas, algumas instituições abrigam turmas, o que não é ideal, mas é melhor que se não houvesse”, ela afirma.

Algumas medidas são necessárias para aumentar e aprimorar a oferta da EJA, de acordo com a professora da UFMG. A criação de salas de acolhimento próximas às escolas pode ajudar a reduzir o abandono das aulas por parte das mulheres, que muito comumente não têm com quem deixar os filhos.

É importante também, ela observa, que a oferta seja integrada à educação profissional. “Para as pessoas que recorrem à EJA, trabalho não é para o futuro, é para agora. O quadro é de desemprego e insegurança alimentar. Trata-se de promover a qualificação do trabalho, mais que a qualificação para o trabalho. Até para que as pessoas tenham condição de continuar se escolarizando e se candidatar a outros tipos de emprego”, explica Analise, salientando que essa lógica contraria o interesse das empresas, mais dispostas a moldar o trabalhador às suas demandas imediatas.

Analise de Jesus afirma que a EJA “tem cor” – sete em cada dez sujeitos são pretos ou pardos – e “tem gênero” – em sua maioria, as pessoas idosas são mulheres e os adolescentes são rapazes, “sempre de regiões periferizadas”. Ela enfatiza que há dinheiro para a educação de crianças e adolescentes e para a de jovens, adultos e idosos, por isso “não faz sentido falar em escolher entre efetivar um direito ou outro”. E defende que os governos destinem cada vez mais esforços e dinheiro à EJA e que as universidades deem maior peso ao segmento, criando disciplinas obrigatórias, especializando professores, criando linhas de pesquisa e desenvolvendo projetos em comunidades.

Prêmio faz Diferença, que reconhece profissionais e empresas em 14 categorias, é realizado em parceria com a Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan).

Fóruns nacionais
Mestre e doutora em Educação pela UFMG, Analise de Jesus da Silva fez estudos de pós-doutorado na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e na Universidade do Minho, em Portugal. Foi a primeira diretora de escola eleita e a única presidente eleita do Conselho Municipal de Educação de Belo Horizonte.

Ela integrou a Comissão Nacional de Alfabetização e Educação de Jovens e Adultos do MEC, foi membro titular do Fórum Nacional de Educação (FNE) e do Fórum Nacional Popular de Educação (FNPE), sempre como representante dos Fóruns de EJA do Brasil. Atualmente, representa a UFMG no Fórum Estadual Permanente de Educação de Minas Gerais, do qual é coordenadora eleita. Vinculada ao Departamento de Métodos e Técnicas de Ensino (DMTE) da FaE, leciona e orienta no Mestrado Profissional – Educação e Docência (Promestre), na linha de pesquisa em Educação de Jovens e Adultos. Coordena o Núcleo de Educação de Jovens e Adultos (Neja) da Faculdade, o Núcleo de EJA no Programa Residência Pedagógica e lidera o Grupo de Pesquisa Educação de Pessoas Jovens, Adultas e Idosas. É pesquisadora cadastrada no CNPq.

Itamar Rigueira Jr.

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