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CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA / FIEI FaE UFMG

terça-feira, 05 de novembro de 2019, às 17:21

CARTA ABERTA À SOCIEDADE BRASILEIRA.

 

Nós, estudantes indígenas do curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI), da Faculdade de Educação (FaE), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), reunidos na aldeia Barra Velha, localizada no município de Porto Seguro (BA), vimos denunciar o descaso e falta de informação a que nós, comunidades indígenas e toda a população brasileira, estamos submetidos desde o derramamento de óleo que atingiu a costa brasileira no dia 30 de agosto de 2019.

Os crimes ambientais não são uma novidade para as comunidades tradicionais indígenas, os grandes empreendimentos de cunho capitalista veem ocasionando impactos ambientais constantes, mas alguns ganham visibilidade por ter uma dimensão maior, como é o caso das manchas de óleo nas praias do nordeste brasileiro. Comunidades que vivem do manejo e atividades marinhas que sofrem mais diretamente esses impactos, por exemplo, os pescadores, catadores de mariscos que sobrevivem no mangue e outros familiares que vivem exclusivamente da comercialização dos artesanatos e turismo na região. Sem mencionar as consequências irreparáveis para a natureza, pois esse óleo altera o ecossistema o qual é comprometido numa catástrofe sem precedentes, destruindo os recifes de corais que são o berço da reprodução das espécies marinhas.Todas essas ameaças já estão afetando na questão moral, social e econômica. O que vemos é um governo que diante da destruição do meio ambiente tem pouco interesse para ajudar, deixando a comunidade indígena indefesa quanto ao problema.

As informações que temos é que essa mancha está a cerca de quarenta quilômetros da região onde moramos, mas desde já encontramos em nossa praia pequenos pedaços desse óleo. Nossa região é composta por vários ecossistemas e estamos muito preocupados, pois sua chegada afetaria lugares que tem uma enorme importância sagrada e espiritual para nós Pataxó, desde nossos ancestrais.

Uma das nossas principais preocupações é o mangue, pois durante muito tempo foi um dos meios de sustento para o nosso povo e significa muito para nós. Se essa área for afetada morreria tanto os mariscos e a beleza do lugar, quanto teria um grande impacto na história e na vida dos Pataxó.

Segundo informações, quanto o óleo chega ao mangue (como já ocorreu em outras localidades do litoral brasileiro) a retirada se torna quase impossível. E sua degradação pode durar várias décadas e jamais voltaria a ser o que era antes. Não há indenização no mundo capaz de reparar o dano que causaria ao nosso povo.

Mediante a todos os relatos mencionados estamos lutando pelo direito que é nosso, dentro da Constituição Federal de viver sobre a terra, embora, observamos que lentamente estamos perdendo o direito de sobreviver sobre ela. Tristes pelo fato de vermos o quanto a ganância e a impunidade tem constantemente prejudicado a nossa tão sagrada natureza, que somos parte. Diante dessa situação, esperamos que medidas efetivas sejam tomadas para que esse problema seja solucionado, apresentando alternativas de fonte de renda, recuperação da natureza e do nosso território, ameaçados não somente o presente, mas também nosso futuro.

Assinam essa carta estudantes Pataxó e Pataxó hã-hã-hãe (BA) do curso de Formação Intercultural para Educadores Indígenas (FIEI-UFMG).